No final de 2001 a Argentina viveu uma grande convulsão econômica, política e social com a quebra dos bancos, que provocou verdadeiro colapso no país. O “corralito” – o confisco da poupança, certamente inspirado no evento brasileiro de dez anos atrás – foi só o momento de ruptura de um processo de sucateamento do país que vinha se dando com as privatizações fraudulentas das estatais, a venda indiscriminada de enormes áreas de terra a estrangeiros, a venda dos recursos naturais e, finalmente, a apropriação do sistema econômico por banqueiros internacionais.
A situação caótica de empobrecimento de um povo tão orgulhoso de sua altivez fez com que os argentinos mirassem seu próprio fracasso e reagissem aos desmandos com que vinha sendo levado o país. Alguns protestaram com os “caçarolaços”, outros se dedicaram a refletir a situação com os instrumentos de que dispunham. Os quadrinistas reunidos na editora independente La Produtora traduziram os efeitos da crise em histórias em quadrinhos, compondo um álbum imprescindível para se entender o sentimento de apreensão, renúncia, violência, paranoia e luta a que se viu submetido o povo argentino.
Como se poderia prever, a publicação de Carne Argentina não teve uma trajetória tranquila em seu país de origem. Foi preciso que o álbum fosse reconhecido em festivais internacionais, como o Salão de Barcelona e o Happening Internazionale Underground de Milão, além de ter as edições francesa e espanhola, para que o álbum finalmente pudesse chegar à Argentina, sem antes sofrer todo tipo de boicote institucional.
A edição brasileira, com tradução de Henrique Magalhães, traz o mesmo conteúdo do álbum original, com os adendos produzidos por ocasião da edição francesa, contextualizando a situação política e as principais personalidades da crise. Participam da edição os quadrinistas Gervasio, José Mazzone, Ángel Mosquito, Luís Guaragna, Aón, Cristian Mallea e Jok. São autores de forte expressão gráfica e domínio narrativo. Alguns continuam produzindo sob o selo de La Produtora, que além de editora independente é também um estúdio e escola de história em quadrinhos. Outros produzem para os Estados Unidos da América e para a Europa. La Produtora, juntamente com outros grupos independentes, representa a renovação dos quadrinhos.
• Páginas: 76 • Formato: 14 x 20cm • Acabamento: capa cartonada •
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